
A primeira vez que fui ao Japão fui assaltado…por um macaco.
Apesar de ter sido em 2004, lembro-me como se fosse ontem. Vinha a pé do parque Jigokudani (o tal que tem os macaquinhos dentro de onsen) por um caminho no meio da floresta, que me levaria até à estrada para apanhar o autocarro de volta para Yudanaka, onde estava hospedado. Levava comigo um saco de plástico com uma sandwich e um sumo. A rapariga do parque tinha-me avisado para guardar o saco dentro de uns cacifos que estavam ao pé da bilheteira porque os macacos iriam roubar-me o que tivesse lá dentro. Assim o fiz! O que não pensei é que ao vir-me embora, apesar de ter-me afastado umas boas centenas de metros por um caminho aparentemente isolado e após a minha barriga ter-me avisado que já seria altura de comer qualquer coisa, ainda estaria em risco de uma emboscada animalesca.
Foi tudo muito profissional. Via-se que não era a primeira vez que o faziam.
Primeiro esperaram que eu mostrasse os meus bens alimentares. De seguida, antes que eu mordesse a minha sandwich, saem dois macacos do meio do nada, e enquanto um fica de guarda o outro avança para mim e tenta tirar-me o repasto. Os meus instintos animais vieram ao de cima e lutei bravamente com o primata. Mas em vão. O macaco estava decidido a dar uma mordida em qualquer coisa e antes que fosse em mim, deixei-o levar a iguaria. Enquanto eles fugiam pela floresta com o saque, olho para trás e reparei que um casal de japoneses tinham assistido tudo com um ar de incrédulos.
Para os japoneses a natureza é sagrada. Os animais e as plantas, as montanhas e os rios são como deuses. Para eles é normal fazer oferendas aos animais e não lutar com eles por causa de uma sandwich.
Percebi, naquela altura, que quem tinha feito figura de urso, fui eu.
Literalmente no fim da linha para Nagano há uma vila encantadora, é um ponto de abrigo para quem quer aventurar-se pelas montanhas ou para quem quer visitar o parque Jigokudani pelos seus próprios pés.
Tinha curiosidade em conhecer os famosos macacos que se aquecem e relaxam no Onsen.
Mas o que me levou a pernoitar uns dias em Yudanaka foi ter lido no guia, que levava comigo, que havia um Ryokan (Uotoshi Ryokan) onde se podia praticar Kyudo (tiro com arco japonês) com um mestre 6ºdan (Kyoshi).
Nunca tinha experimentado Kyudo, e era algo que me fascinava.
Eu pratiquei durante anos tiro com arco em Portugal. Cheguei a ser federado e a ganhar um segundo lugar num campeonato Ibérico, quando ainda tinha 16 anos.
Talvez tenha sido isso que convenceu o mestre a dedicar uma boa parte do seu tempo a mostrar-me a sequência (hassetsu) de oito passos que caracteriza o Kyudo, e até a deixar-me experimentar disparar o arco para o alvo (makiwara) que estava no exterior.
O normal é, para quem não tem treino ou experiência alguma, disparar para um alvo a cerca de 2 metros dentro do dojo.
Eu tive o privilégio de disparar a uns 14 metros, apesar de inúmeras tentativas apenas interrompidas pela mulher do mestre a chamar para o jantar, não acertei nem uma flecha no alvo.
Lembro-me de o mestre ainda insistir, para ver se eu acertava pelo menos uma vez antes de recolher, mas eu estava cansado e já satisfeito pelo privilégio de ter treinado no Japão, com mestre japonês num Kyudojo maravilhoso e inspirador. Nisso acertei em cheio.
Com uma taxa de menos de 1% de índice de criminalidade, o Japão é um país muito seguro.
Claro que estou a falar de segurança criminal. Já que devido às suas características vulcânicas, por estar localizado no extremo do continente Asiático e situado em cima de três placas tectônicas (Eurasiana, das Filipinas e do Pacífico), o Japão é um país habituado aos desastres naturais.
Talvez por isso, os japoneses são um povo tão unido que pensa na colectividade acima de tudo, mas sempre preservando a individualidade de cada pessoa aproveitando-a como mais valia para a evolução da comunidade.
É comum vermos casos de comunidades japoneses que se juntam para salvar uma linha férrea que, por não dar lucro, iria ser descontinuada. Ou que em casos mais dramáticos unem-se para salvar vidas, e reconstruir populações devastadas por um tufão.
Um exemplo de como essa comunidade funciona tão bem é em Shirakawago em que as famosas casas Gasshō-zukuri devido aos seus telhados de palha característicos, que têm que ser mudados de 20 em 20 anos, mobilizam a população (os YUI) para o fazer, uma por ano.
O know how é passado de geração em geração, perdurando a tradição, e mantendo-se um legado que é hoje um Património da Humanidade da Unesco.
O resultado é um maior fluxo turístico e uma vila revitalizada, que outrora apenas dependia da agricultura e dos bichos da seda.
Diria que assim, todos beneficiam com esta aposta.
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